parte 1 de 4 da tradução de um manifesto originalmente posto a circular entre pessoas que marchavam com o contingente ACT UP da marcha do orgulho gay de Nova Iorque, em Junho de 1990. autoria(s) anónima(s). texto original aqui & mais informação sobre a ACT UP aqui.
Como to posso dizer? Como te posso convencer, irmão, irmã, que a
tua vida está em perigo? Que todos os dias em que acordas viv*,
relativamente feliz e um ser humano funcional, estás a cometer um
acto de rebelião? Enquanto queer viv* e funcional, tu és um*
revolucionári*. Não há nada neste planeta que valide, proteja ou
encoraje a tua existência. É um milagre que estejas aqui a ler
estas palavras. Devias estar mort*.
Não te deixes enganar, as pessoas hetero têm posse sobre o mundo
e o único motivo pelo qual foste poupad* é por seres espert*,
sortud*, ou um* lutador*. As pessoas hetero têm um privilégio que
lhes permite fazer tudo o que queiram e foder sem medo. Mas elas não
se limitam a viver uma vida livre de medo; elas ostentam a sua
liberdade na minha cara. As suas imagens estão na minha TV, na
revista que comprei, no restaurante em que quero comer e nas rua onde
moro. Quero que haja uma moratória sobre o casamento hetero, sobre
os bebés, sobre demonstrações públicas de afecto entre membros
dos diferentes sexos e sobre imagens mediáticas que promovam a
heterossexualidade. Até que eu possa viver a mesma liberdade de
movimento e sexualidade, enquanto heteros, o seu privilégio tem de
ser impedido e cedido a mim e às minhas irmãs e irmãos queer.
As pessoas hetero não farão isto voluntariamente e por isso
terão de ser forçadas a fazê-lo. Os heteros têm de ser
atemorizados ao ponto de o fazer. Aterrorizados ao ponto de o fazer.
O medo é a mais poderosa das motivações. Ninguém nos dará o que
merecemos. Os direitos não são dados, são tomados, se necessário
pela força.
É mais fácil lutar quando se sabe quem é o inimigo. As pessoas
hetero são o inimigo. Elas são o teu inimigo quando não reconhecem
a tua invisibilidade e continuam a viver em e a contribuir para uma
cultura que te mata.
Todos os dias, um de nós é tomado pelo inimigo. Quer seja uma
morte relacionada com a SIDA devido à inactividade governamental
homofóbica ou um ataque a lésbicas num restaurante aberto à noite
(num bairro supostamente lésbico), estamos a ser sistematicamente
despachad*s e continuaremos a ser arrasad*s a não ser que nos
apercebamos que se levam um* de nós têm de nos levar a tod*s.
1. Um Exército de Amantes Não Pode Perder
Ser queer não é sobre um direito à privacidade; é sobre a
liberdade de ser públic*, de simplesmente sermos quem somos.
Significa lutar diariamente contra a opressão; a homofobia, o
racismo, a misoginia, a intolerância de hipócritas religiosos e o
teu próprio ódio a ti mesm*. (Fomos cuidadosamente ensinad*s a nos
odiar a nós própri*s.) E agora, claro, isso significa também
combater um vírus e todos os que odeiam paneleiros que estão a usar a
SIDA para nos aniquilar da face da terra.
Ser queer significa levar um tipo diferente de vida. Não é sobre
o mainstream, margens de lucro, patriotismo, patriarcado ou ser
assimilad*. Não é sobre directores executivos, privilégio e
elitismo. É sobre estar nas margens, definindo-nos a nós própri*s;
é sobre rebentar com o género e é sobre segredos, o que está debaixo
do cinto e bem fundo dentro do coração; é sobre a noite. Ser queer
é “grass roots” porque sabemos que tod*s nós, cada corpo, cada
cona, cada coração e cú e pixa, é um mundo de prazer à espera de
ser explorado. Cada um* de nós é um mundo de possibilidades
infinitas.
Somos um exército porque temos de ser. Somos um exército porque
somos tão poderosos. (Temos tanto pelo que lutar; somos a mais
preciosa das espécies em vias de extinção.) E somos um exército
de amantes porque somos nós que sabemos o que o amor é. E o desejo
e a excitação, também. Nós inventámo-los. Nós saímos do
armário, deparamo-nos com a rejeição social, confrontando pelotões
de fuzilamento, apenas para nos amarmos uns/umas aos/às outr*s!
Sempre que fodemos, ganhamos.
Temos de lutar por nós própri*s (mais ninguém o vai fazer) e se
nesse processo trouxermos maior liberdade ao mundo em geral, então
óptimo. (Já demos tanto a este mundo: a democracia, todas as artes,
os conceitos de amor, filosofia e alma, para nomear apenas algumas
das dádivas das nossas anciãs Bichas e Fufas Gregas.) Façamos de todo
o espaço um espaço Lésbico e Gay. De todas as ruas uma parte da nossa
geografia sexual. Uma cidade de ânsia e depois, de total satisfação.
Uma cidade e um país onde possamos estar segur*s e ser livres e ainda mais. Temos de olhar para as nossas vidas e ver o que é melhor
nelas, ver o que é queer e o que é hetero, separar o trigo do
joio! Lembrem-se que nos resta tão, mas tão pouco tempo. E eu quero
ser amante de cada um* de vocês. No ano que vem, marchamos nu*s.
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